Guia da Desonestidade Académica

Formação de Formadores - Manual da Cábula

O Portal da Formação de Formadores criou um Guia que aborda os diferentes tipos de desonestidade praticadas nos meios académicos ou da formação profissional.

Este guia visa por um lado efectuar um diagnóstico da realidade portuguesa actual bem como da sua evolução, por outro lado o objectivo mais importante consiste em ajudar o formador / professor a prevenir e evitar este tipo de comportamentos anti-pedagógicos.

Para tal dividimos este Guia em várias secções; começando pela caracterização, seguida de um diagnóstico baseado nos diversos estudos já realizados em Portugal, depois a descrição das diversas técnicas de fraude durante a realização de testes / exames e por último propomos-lhe algumas dicas que o poderão ajudar a prevenir os vários tipos de desonestidade académica.

Formação de Formadores - Desonestidade Académica

A Génese

No príncipio era o estudo... mas este era um mundo imperfeito. Não havia espaço para o lazer, para o prazer do sucesso fácil, a vitória do esperto sobre o "marrão".. enfim, tudo se resumia a um mundo cinzento e previsível. Quem mais estudava era quem obtinha melhores resultados, uma "chatice".

Eis que o Homem decide espreitar pelo ombro do colega, não cabendo em si de felicidade perante tamanha descoberta. Nada mais voltaria a ser igual. O pecado original do paraíso pedagógico acabara de nascer. A desonestidade em sala de aula cumpria o sonho mais desejado da criança ao homem adulto: "como aprender sem esforço".

Portal da Formação de Formadores - Estudos sobre o Plágio

Portugal acompanha o resto do Mundo no que diz respeito ao número de estudantes que admite ter copiado em exames. Existem alguns estudos portugueses relativamente ao uso do plágio no contexto académico dos quais gostaríamos de salientar os seguintes:

Ivo Domingues, professor de Sociologia, na Universidade do Minho, é autor de um estudo com o título «Atitudes face ao copianço na universidade», em que aponta para uma prática generalizada da fraude académica. Como exemplo, refere que numa turma do 1º ano a maioria dos alunos afirmava que este comportamento era herdado do ensino secundário: 95% admitiu já ter copiado anteriormente e só 5% é que afirmaram ter iniciado este tipo de prática na faculdade.

Formação de Formadores - Técnicas de como Cabular

A arte de "cabular" - ou do "copianço" - como é comum ser referida actualmente, ocupa um lugar de destaque no universo da desonestidade pedagógica. Da envergonhada e esporádica ocorrência de há 50 anos até à máxima moderna "estudo, logo copio" vão apenas algumas décadas de (in)evolução.

O Guia da Desonestidade Académica dedica esta secção a esta actividade universal, que de tão inventiva por vezes, supera o objecto de estudo quer em qualidade, quer em inventividade. Se pretende evitar a cópia dos seus formandos durante os testes ou exames, conheça algumas destas técnicas para melhor se proteger:

Portal da Formação de Formadores - Como Prevenir a Fraude Académica

Da leitura das secções anteriores resulta claro que a fraude pedagógica assume contornos preocupantes quer pela crescente banalização, quer pelos efeitos preversos que provoca na formação do indíviduo e da sociedade em geral. Nesta secção iremos descrever algumas técnicas que o poderão ajudar a prevenir a fraude académica.

Discuta o Tema com os seus Alunos

Debater este tema de uma forma aberta, é uma boa técnica para iluminar o que tende a esconder-se entre pactos de silêncio e na penumbra do pensamento. Discuta os diferentes tipos de fraude e as diversas técnicas, para que fique bem claro que o formador as conhece e sabe como detectar. Convide os seus formandos a debater as possíveis consequências sociais e profissionais deste tipo de comportamento a médio prazo.

1 - Introdução >>

Estudos sobre o Plágio Académico

Portal da Formação de Formadores - Estudos sobre o Plágio

Portugal acompanha o resto do Mundo no que diz respeito ao número de estudantes que admite ter copiado em exames. Existem alguns estudos portugueses relativamente ao uso do plágio no contexto académico dos quais gostaríamos de salientar os seguintes:

Ivo Domingues, professor de Sociologia, na Universidade do Minho, é autor de um estudo com o título «Atitudes face ao copianço na universidade», em que aponta para uma prática generalizada da fraude académica. Como exemplo, refere que numa turma do 1º ano a maioria dos alunos afirmava que este comportamento era herdado do ensino secundário: 95% admitiu já ter copiado anteriormente e só 5% é que afirmaram ter iniciado este tipo de prática na faculdade.

Ou seja, tal comportamento é suportado por um contexto social e académico favorável a este tipo de fraude, em que os pactos de silêncio imperam. A sua afirmação faz-se de modo crescente, a começar nos graus mais baixos do ensino. Por outro lado, os professores têm vindo a enfraquecer as práticas de vigilância e controlo e mesmo os mecanismos sancionatórios refletem um certo "facilitismo" pedagógico e alguma indefinição na ética deontológica. 

Aurora Castro Teixeira, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e Maria Fátima Rocha são autoras de diversos estudos sobre a integridade académica no ensino superior. Entre eles um estudo realizado nas universidades públicas dos cursos de Economia e Gestão em 2005 e reavaliado em 2010 com a colaboração de um vasto leque de Universidades em todo o Mundo, do qual podemos retirar algumas conclusões interessantes:

  • Os homens têm uma tendência para copiar 20% superior à das mulheres.
  • A distribuição geográfica das atitudes de cabulanço é outra surpresa pois, segundo o estudo, os alunos oriundos da região do Alentejo possuem uma propensão à cópia muito superior: "oito em cada dez alentejanos são cábulas". Neste "ranking", os alunos originários das ilhas são os mais cumpridores: 50% dos açorianos diz que nunca copia, logo seguidos por 41,7 dos madeirenses.
  • Existe um aumento da fraude académica nos anos finais de um curso, o que poderá estar associado à pressão para ter boas notas e entrar no competitivo mercado de trabalho. Tal é agravado pela aceitação ética e moral deste tipo de práticas pois 51,4% dos alunos considera que copiar é um acto irrelevante e pouco grave.
  • Cerca de 40% admite que o acto é intencional e só 17% admite que o faz por motivos de pânico.
  • Em Portugal existe uma lacuna na forma como as instituições lidam com este problema existindo "um comportamento desculpabilizante e transversal a toda a sociedade". Refere ainda que nas insituições onde existe um código de honra, dissuasor da fraude bem como sanções claras, os valores estatísticos descem significativamente.
  • Mas segundo Aurora Teixeira, mais importante do que as questões de ordem moral são as questões que têm a ver com o maior ou menor rigor no controlo e vigilância dos testes e exames: "os alunos que mais copiam são os que consideram que os vigilantes são dissuasores e que assumem que se tivessem menos vigilantes estudavam menos".
  • Os estudantes que assumem práticas menos lícitas ao nível dos estudos possuem maior probabilidade de cometer actos ilícitos no contexto laboral. Tal, refere a autora do estudo, assume perigos acrescidos na área do Direito. Outra implicação social, segundo a estudiosa, reflecte-se na tendência para a fuga aos impostos.
  • Segundo este estudo que envolveu também 42 instituições dos quatro continentes - excepto a Ásia - para um universo de 7213 estudantes e 41 Países, 61,7 por cento dos alunos universitários admite já ter praticado algum tipo de fraude
  • Portugal e restantes países do sul da Europa, bem como o bloco de países latino-americanos, estão no meio da tabela. O bom exemplo vem dos países nórdicos - Dinamarca e Suécia - e o mau exemplo vem dos países do leste europeu - Polónia, Roménia e Eslovénia - com uma média estimada em 87,9 por cento.
  • Deste estudo internacional verifica-se que existe uma forte correlação estatística entre os índices de fraude académica e os indicadores de corrupção relativos a cada País (Índice Mundial de Transparência relativo a 2005). Ou seja, nos países onde há maior fraude académica o nível de corrupção é superior.
  • Quase dois em cada dez estudantes admitem ter copiado "uma secção de um livro, artigo ou website e submetê-lo como seu".

<< 1 - Introdução

3 - Técnicas de Como Cabular >>

Técnicas de como Cabular

Formação de Formadores - Técnicas de como Cabular

A arte de "cabular" - ou do "copianço" - como é comum ser referida actualmente, ocupa um lugar de destaque no universo da desonestidade pedagógica. Da envergonhada e esporádica ocorrência de há 50 anos até à máxima moderna "estudo, logo copio" vão apenas algumas décadas de (in)evolução.

O Guia da Desonestidade Académica dedica esta secção a esta actividade universal, que de tão inventiva por vezes, supera o objecto de estudo quer em qualidade, quer em inventividade. Se pretende evitar a cópia dos seus formandos durante os testes ou exames, conheça algumas destas técnicas para melhor se proteger:

O método da camisa de mangas compridas

Esta técnica é mais utilizada durante o inverno. Na prática o aluno utiliza os seus antebraços como papel de cábula escrevendo aí todas as informações que necessita memorizar. Sempre que pretende consultar esta "cábula" só tem que arregaçar as mangas, enquanto o formador não está a olhar para si. Existem variantes em que o papel da cábula é colado com fita adesiva ao braço do aluno, ou de forma idêntica nas pernas - embora aí a leitura seja mais difícil.

A Mesa é a melhor amiga

Há formandos que são muito pontuais, até demasiado! São os primeiros a chegar à sala e o seu propósito é apenas um: escrever no tampo da mesa a sua cábula. Em seguida só têm que pousar algo em cima dela: uma peça de roupa, umas folhas em branco, etc. para esconder a prova do crime. Sempre que necessário, afastam esse objecto e espreitam. 

Tecnologia amiga

Sempre que o teste permita a utilização da calculadora, a arte e o engenho aguçam. Hoje em dia a tecnologia coloca ao serviço do "aluno cábula" um arsenal de opções. Desde calculadoras que aparentam um ar simples - mas que têm capacidade para armazenar o Wikipédia inteiro - até às memórias escondidas (que através de uma combinação de teclas mostram as fórmulas e definições escondidas) quase tudo é possível. O telemóvel também é muito usado e os smartphones são a estrela do momento. O melhor mesmo é não permitir o seu uso, colocando-os sobre a secretária do formador até ao final do teste.

Chapéus há muitos, mas alguns são melhores do que outros...

Copiar na sua forma mais comum implica apenas espreitar o teste do colega do lado ou da frente, com ou sem o seu consentimento. É em relação a esta modalidade que o formador normalmente está mais atento. Mas a imaginação do formando não tem limites. Sempre que algum deles insista em usar chapéu, desconfie. E se o chapéu for do tipo "jogador de baseball" - com a aba para a frente - é ideal para que ele, com a cabeça inclinada, possa observar calmamente o teste dos outros colegas.

O Método Kleenex

Se alguns dos formandos já entregaram o teste é natural que o formador os coloque em cima da sua mesa, não tendo muitas vezes o cuidado de os colocar com a frente virada para baixo. É o momento certo para o "aluno cábula" atacar: finge tosse, necessidade de assoar e aproxima-se da mesa do formador pedindo um lenço de papel. Enquanto o Formador procura ele só tem que espreitar para um desses testes. Um método alternativo é levar a cábula escrita num dos seus lenços de papel e, ao fingir que se assoa, consultar a mesma.

Trabalho em Equipe

Desde pagar a um "outsider" para que faça o teste até conseguir alguém lá fora - normalmente nos balneários - que aguarde que o formando peça para ir à casa de banho (criando assim a oportunidade para o ajudar) tudo é possível. A vigilância é a única defesa contra este método subversivo.

A Técnica da Mochila

Este aluno escolhe normalmente os lugares mais distantes e inacessíveis da sala. Quando o formador pede - no início do exame - para guardar todos os documentos e livros, este aluno aproveita para colocar as suas notas no chão, junto à mochila ou pasta volumosa, para que não possam ser vistas pelo formador, podendo no entanto ser consultadas pelo formando ao longo do teste.

Estado desesperado

Este método é semelhante ao método do chapéu e a ideia é dar a impressão que se está com dificuldades - o que normalmente é bem visto pelo formador e apela à solidariedade e compreensão do mesmo. Enquanto o formando suspira, coloca a mão na cabeça e se inclina (num gesto de desespero) tal não passa de uma boa prestação de actor, pois na realidade fica assim melhor posicionado para espreitar o teste dos colegas, escondendo com a mão o olhar. Esta técnica tem variantes: enquanto se fecha o olho do lado do formador o outro pode manter-se "bem aberto".

A técnica da Pastilha Elástica

Esta técnica é engenhosa. Alguns tipos de chicletes vêm embrulhadas em papel que pode ser aproveitado para o formando colocar as suas notas escritas. Assim, em caso de desespero, este só tem de desembrulhar a "pastilha certa" e ler as notas escritas. Raramente alguém desconfia, mas agora passa a estar prevenido! Na eventualidade de o formador desconfiar, existe normalmente uma pastilha inócua - sem notas - que se oferece ao professor num gesto de boa vontade.

Graffitis / Mural

Este método exige a "solidariedade" da turma e consiste em alguém escrever nas paredes - em cartazes afixados ou em outro lugar estratégico, fora da visão fácil do Formador - informações que ajudem o aluno a "cabular". Caso o Formador descubra, terá dificuldade em acusar alguém, pelo que neste caso "o crime compensará". Portanto, uma revisão ocular das paredes atrás do formador não será má ideia.

A Palma da Mão não serve só para ler a sina
Esta técnica é um clássico mas não serve para quem se enerva e transpira das mãos... Uma caneta, duas mãos - uma para escrever e a outra para ser escrita - são suficientes. O limite está no tamanho da letra e/ou no tamanho da mão.

Murmúrios
À medida que o teste decorre, do silêncio sepulcral do início, um som de fundo vai aumentando enquanto o tempo passa. São murmúrios - normalmente vindos do lado oposto onde se encontra o formador - que aumentam e diminuem entre os "shhss!" que o mesmo vai distribuindo, na vã tentativa de os silenciar. Uma técnica para minorar este tipo de "companheirismo" é contrariar a ordem pela qual os formandos de sentam, redistribuindo os respectivos lugares.

<< 2 - Estudos sobre o Plágio Académico

4 - Como Prevenir a Fraude Académica >>