Formação: um cluster em "formação"

Formação um novo "Cluster"São em momentos de dificuldade que a capacidade de um País se reinventar é posta à prova. O DNA de Portugal já demonstrou no passado que contém os genes necessários a este processo de mudança e transformação.
Desde a longínqua década de 90, em que Michael Porter identificou um conjunto de "clusters" tais como a cortiça, o calçado, as pedras ornamentais e os moldes, até à década de 2000 em que o programa PROINOV estendeu este conceito aos chamados mega "clusters" - privilegiando a articulação de um conjunto alargado de actividades - que a formação foi sempre considerada mais como uma ferramenta de trabalho ao serviço dos "clusters", do que um "cluster" em si mesmo.

Mas a necessidade aguça o engenho e assim, temos assistido a um movimento de internacionalização de um novo "cluster": a formação de quadros em gestão. "Apostar na formação, nomeadamente em programas customizados e desenhados para apoiar uma estratégia de internacionalização, é um factor crítico de sucesso desse processo" e "O ensino superior português pode ser uma grande indústria exportadora", são afirmações de José Ferreira Machado, o director da Nova School of Bussiness & Economics.

De repente, universidades como a Católica-Lisbon School of Business and Economics (46º lugar no ranking do Financial Times), a Nova School of Business and Economics (47º lugar) ou a Universidade do Porto (64º lugar) despontam nos rankings internacionais e colocam o nome de Portugal numa posição de destaque numa área tão competitiva como a das "business schools". A formação de quadros de gestão tem também uma rota de ascenção nos mestrados em Gestão e Finanças, mais uma vez colocando as faculdades referenciadas numa posição invejável. A somar a este sucesso, as universidades de Aveiro, Porto e do Minho surgem no ‘ranking' das 400 melhores instituições da revista "Times".

No outro extremo, a formação enquanto aposta da tão desejada modernização, mereceu uma atenção especial por parte do Ministério da Educação que elegeu a formação "dual" (ver o nosso artigo sobre cursos de aprendizagem), baseada no sistema alemão de educação mista, como a nova aposta para os jovens que no futuro tenham que decidir sobre o sistema de ensino no secundário. Este tipo de ensino dá relevância à especialização das competências, reforçando a ligação entre o ensino público e as empresas ou organizações; a chamada formação em contexto de trabalho. Esta meteodologia, já é utilizado em Portugal há alguns anos por empresas como a Siemens, Bosch, VW Autoeuropa e câmaras luso-alemã. Esta aposta renovada pretende um crescimento para números mais expressivos, tendo por objetivo que, até ao final de 2012, cerca de 30 mil jovens frequentarão o ensino dual e de formação profissional.

Paralelamente, o Governo de Portugal avança com a urgência da reforma do estado e das suas funções, colocando a debate a necessidade de reduzir o número de funcionários públicos. E vai avançando com a possibilidade de usar fundos comunitários, não para indemnizar a dispensa desses trabalhadores (o que é ilegal face à legislação comunitária), mas sim para apoiar a formação dos mesmos e permitir a sua reintegração no mercado profissional, com outras funções e outras valências.

De tudo isto ressalta a ideia incontornável de que, as mudanças que a sociedade europeia irá enfrentar nos próximos anos - senão décadas - passarão em grande parte pela requalificação e formação profissional dos seus trabalhadores. É pois de esperar que a formação, num plano de maior especialização e ligação às empresas, constitua um pólo de crescimento. O surgimento de um novo "cluster" em Portugal nas áreas da formação e do ensino é uma oportunidade para a qual estamos altamente vocacionados e é uma fonte de alento e esperança para todos aqueles que exercem a atividade de formador.